23-05-2025 17:22
A título de exemplo, ao longo de 30 anos de existência, a receção do GAF — Gabinete de Atendimento à Família — esteve aberta mais de 7.000 dias úteis. Neste tempo, acolheu centena de milhares de pessoas, sendo atualmente a porta de entrada para cerca de 30.000 pessoas ao ano. Entre 50 atendimentos formais por dia, além de inúmeros contactos informais, esclarecimentos, pedidos de ajuda e articulações constantes com cerca de 50 colaboradores internos.
O trabalho dos profissionais da receção é muito mais do que atender o telefone ou abrir a porta. São eles que fazem o primeiro acolhimento, ouvem com atenção, identificam necessidades, prestam as primeiras orientações e encaminham para o serviço adequado. Também apoiam os próprios colegas, gerindo informação, pedidos e urgências com equilíbrio e discrição. São, muitas vezes, o elo entre utentes e equipa técnica, e desempenham um papel decisivo para o bom funcionamento da instituição.
Apesar da sua importância, esta função continua a ser pouco valorizada pelo público em geral e por muitas Organizações. Raramente é reconhecida como trabalho de linha da frente, ainda que envolva contacto diário com situações de sofrimento, urgência, frustração e, por vezes, agressividade. A pressão emocional é constante, o ritmo intenso, e o tempo para processar as experiências é escasso. Estes fatores tornam este trabalho particularmente vulnerável ao desgaste e ao risco de burnout.
No contexto do terceiro setor, onde os recursos são frequentemente limitados e as exigências elevadas, o impacto deste tipo de funções é ainda mais evidente. A qualidade do acolhimento inicial pode influenciar toda a experiência da pessoa que procura ajuda — e também o bem-estar e organização da própria equipa.
Reconhecer a importância dos profissionais da receção é, por isso, essencial. Mas não basta valorizar. É necessário desenvolver mecanismos concretos de apoio e proteção emocional. E assim, mitigar o stress acumulado e reduzir os riscos associados à saúde mental consequente.