O Gabinete de Atendimento à Família, ao longo destes dezanove anos de serviço à devolução de cidadania aos mais excluídos, vem realizando, de forma contínua, este evento cultural e científico, como oportunidade de reflexão e questionamento das suas práticas, através do contributo de olhares distanciados de especialistas das várias áreas de investigação e intervenção das Ciências Sociais e Humanas, para que o serviço prestado tenha potencial de desenvolvimento e de empoderamento dos seus utilizadores. A temática em análise: “Metamorfose Social: O Empoderamento da Família Empobrecida”, assume a maior relevância histórica e social, constando da agenda dos Estados da União Europeia.
Nas sociedades ocidentes atuais, ditas democráticas, mas marcadamente excludentes, ainda que no discurso político explícito se faça a apologia da inclusão e de uma maior igualdade de oportunidades para todos, é importante que as instituições –– sobretudo as da Economia Social, como o GAF –– e os cidadãos reflitam acerca dos processos que estão subjacentes às situações crescentes de novas formas de exclusão, produzidas pela dominância de políticas economicistas e tecnocratas que branqueiam o cuidado pelo outro, sobretudo dos mais vulneráveis, privilegiando o serviço dos grandes grupos económicos.
Os estados da União europeia confrontam-se, na atualidade, com uma opção político/ética que sintetizaria nesta situação dilemática: (a) ou se acomodam a um sistema social dominado pelas lógicas neo-liberais economicistas e tecnocratas, comandados subreptíciamente pelos grandes grupos financeiros, sustentados por economias subterrâneas, geradoras de fortes injustiças na distribuição da riqueza; (b) ou assumem uma confrontação crítica de rutura e de denúncia destas lógicas desumanizantes e desresponsabilizadoras do cuidado pelo outro. Isto é, em última análise, trata-se de transformar o exercício da política recuperando o seu significado original no serviço da construção de uma sociedade justa: “em que o bem-estar dos menos não se faça sobre o mal-estar dos mais; em que a realização de alguns não requeira a negação dos outros, em que o interesse de poucos não exija a desumanização de todos “ (Martin-Baró, 1996, pag. 23).
Espero que estas XIX Jornadas do GAF, organizadas pela equipa multidisciplinar do Rendimento Social de Inserção (RSI), que lida constantemente com estas situações dramáticas de famílias empobrecidas, –– sendo frequentemente e injustamente auto-responsabilizadas, na sua maioria, pela sua situação de pobreza: “são pobres porque são preguiçosos, não querem trabalhar, subsídio-dependentes…”, numa lógica perversa de culpabilização da vítima pela desresponsabilização social ––, possam ser um contributo importante de reflexão para questionar os modelos teóricos e práticas de ler e fazer mundos, em ordem à emergência de práticas inovadoras que promovam uma real inclusão e empoderamento dos cidadãos. Isto é, que sejam autónomos a gerir as suas próprias vidas, acedendo, com pleno direito, aos recursos disponíveis na comunidade mas conscientes dos seus deveres, sendo cidadãos ativos e participativos na construção dos recursos da comunidade pelo seu sentido de pertença à mesma.
Viana do Castelo, 25 de Fevereiro 2013
Pela Direção do GAF,
P. Carlos Manuel Gonçalves
Com este evento pretende-se promover a discussão sobre as transformações sociais resultantes da conjuntura sócio-económica do país e refletir sobre estratégias criativas e de sucesso na promoção da família empobrecida. O objetivo subjacente nestas XIX Jornadas é a procura de respostas alternativas na intervenção social com as famílias empobrecidas, promovendo o sentido de eficácia e eficiência dos(as) profissionais da área social.
A equipa organizadora pretende ainda a conjugação da componente científica com uma vertente mais cultural, estando previsto uma dramatização, a apresentação de uma reportagem elaborada pela equipa, o debate sobre a medida do Rendimento Social de Inserção, a elaboração de ilustrações ao vivo, vários workshops e uma exposição artística.
Pretendemos que as XIX Jornadas do GAF possam contribuir para o enriquecimento pessoal e profissional dos seguintes destinatários: profissionais das áreas da psicologia, serviço social, educação, sociologia, saúde, jurídico, economia, entre outros.