25-02-2022 16:38
Sabia que … O Entrudo é o resultado da endoculturação coletiva de outros ritos que tiveram início nas comunidades da pré-história.
Transversalmente, a sobrevivência dos povos da pré-história, com a sua economia recolectora, era fortemente dependente do ciclo do calor. Com o afastar do solstício de inverno e o aproximar do equinócio da primavera, os dias ficam progressivamente mais longos, luminosos e começa-se a sentir o despontar da natureza. Imaginando a importância que este momento tinha para as comunidades, era expectável a existência de festejos com rituais com fogo (forma de introduzir a morte e a ressurreição do espírito da vegetação).
Mais tarde também os Celtas mantiveram o fogo como ritual mágico. E pelo mês de fevereiro ocorreriam festejos para purgar o inverno e receber a entrada da estação do tempo quente.
Acredita-se que a utilização das máscaras estaria presente nestes cerimoniais, com a função de conferir poderes mágicos de interlocução dos humanos com as forças transcendentes.
Mais tarde em culturas mais complexas, já no período histórico, incorporam-se estes ritos nas suas celebrações mitológicas. Terá sido neste período que os festejos passaram a folguedos, proporcionando em certos momentos a hipótese de transgressão, tornando-se como que um momento de catarse, na dura e complexa estratificação social destas sociedades.
No período medieval, o clero inicia o processo de cristianização dos rituais pagãos, não tendo, contudo conseguido apagar o Carnaval do íntimo popular. Assim, a data acabou por ser assumida e incorporada como o momento que precede o tempo quaresmal. A institucionalização do Carnaval consolidou ainda mais os festejos um pouco por toda a parte. Enquanto momento de folia tornou-se um "escape” social à dura e obscura rigidez normativa imposta pelo clero.
Atualmente os festejos carnavalescos em território nacional dividem-se em dois grupos: os espontâneos e os organizados.
Os espontâneos, acontecem predominantemente em comunidades mais rurais, e com rituais com fortes reminiscências dos cultos ancestrais. Destacam-se: Bragança, com os Caretos; Viseu, com o Entrudo de Lazarim. Coimbra, com o Carnaval de Góis. e em Viana do Castelo, em Lindoso, o Enterro do Pai Velho.
Os organizados, são predominantemente urbanos, como os de Ovar, Mealhada, Torres vedra, Loulé e Funchal, dinamizados por coletividades. Estes além de possuírem características clássicas como a sátira e a crítica social, adquiriram uma roupagem tropical, fruto da “miscigenação” vinda das ex-colónias, num efeito de retorno cultural.
O Carnaval de hoje resulta da sobreposição de variadíssimos preceitos, adquiridos ao logo do tempo, num processo de endoculturação milenar.
Fotografia: Escultura essências do Entrudo, 2021 Materiais: Papéis artesanais produzidos nos ateliers, fio de linho e elementos vegetais. Trabalho inserido nos 25º Aniversario das OFICINAS by GAF.